Nação empreendedora & gestão de crises: os atributos de seu sucesso
Originalmente publicada em Revista nº 22 — Junho/2021 — Revista Bras.il (bras-il.com)
Os últimos meses têm exigido de Israel — mais do que nunca — colocar em prática todas as aptidões para gestão de crises. Durante vários meses em 2020, Israel teve o mais alto número per capita de novos casos de infecção do mundo; apenas o fato de a população ser na média mais jovem do que em outras nações manteve o número de mortes baixo. Porém, devido a várias medidas, incluindo o fato de que Israel foi o líder mundial em vacinação contra COVID-19, graças a D-us hoje estamos em uma situação bastante diferente.
Entretanto, nós que empreendemos estamos conscientes dde que o período de calmaria é aquele onde celebramos uma vitória mas já nos preparamos para a próxima batalha; não bastando a luta contra a pandemia e seu impacto tanto na saúde pública como na economia, precisamos enfrentar outro inimigo: o terrorismo. Durante os 12 dias que precederam o cessar-fogo em 21 de maio, os grupos militantes palestinos Hamas e Islamic Jihad lançaram nada menos do que 4.369 mísseis de vários tamanhos alcances contra cidades israelenses. De acordo com as Forças Armadas israelenses, dois terços desses mísseis não atingiram seu alvo (muitos caíram sobre as áreas densamente populadas de Gaza, de onde foram lançados, matando e ferindo adultos e crianças com seus próprios mísseis). Ainda assim, 1.500 chegaram a cidades israelenses. A razão pela qual registramos “apenas” 12 mortes: mais de 90% dos mísseis foram interceptados pelo nosso sistema de defesa antimíssil, o Iron Dome.
Mas o objetivo deste artigo não é debatermos estes temas, e sim entendermos como abraçar os atributos positivos da cultura, atitude e comunicação na sociedade Israelense que nos ajudam a vencer batalhas difíceis como a pandemia e o terrorismo.
Somente no 1º trimestre de 2021, startups israelenses receberam mais de 5 bilhões de dólares de investimento em meio a este cenário conturbado em que vivemos. De acordo com o IVC Research Center, um total de $5.374 bilhões foi investido em empresas israelenses entre janeiro e março de 2021 (distribuídos entre 172 investimentos). Isto representa um acréscimo de 89% em relação ao último quartil de 2020: o dobro do montante investido no 1º trimestre de 2020 quando a pandemia do COVID-19 começou a afetar Israel. Não tentarei elaborar em todas as razões que fazem isto ser, mas gostaria de destacar alguns atributos de empreendedores de sucesso que tornam isto possível:
1) Resiliência: no seu blog post de 26 de maio último, Jon Medved (fundador e CEO da OurCrowd) resume a essência de uma startup: a habilidade de gerenciar crises e responder à adversidade.
“Startups são empresas que aprendem a gerenciar crises desde seu primeiro dia de existência. Elas não têm dinheiro. Elas não têm um time. Elas não têm clientes. Elas precisam aprender a superar crises — senão, elas não sobreviverão. Resiliência e a habilidade de lidar com desafios e mudanças com as quais jovens empresas se são essenciais para um empreendedor bem-sucedido. Você será medido através de como você responde ao stress e à adversidade. Esta é a essência de uma startup”.
Durante meus 15 anos na Microsoft, liderei diversos projetos de inovação disruptiva, como a criação do modelo de negócios da nuvem (Azure) desde seu primeiro dia fora do Microsoft Research. Sempre fechei minhas apresentações a executivos liderando a “Transformação Digital” em suas empresas com a filosofia de Michael Jordan: “Não importa se você cai; o importante é se você se levanta”.
2) Atitude: especialistas como Simon Sinek enfatizam que devemos priorizar atitude e “mindset” no recrutamento de talento. A Harvard Business Review publicou há uma década um relatório intitulado “Hire for Attitude, Train for Skill”. Hoje, ao recrutar desde assistentes administrativos até profissionais mais experientes, meu primeiro nível de “screening” de candidatos é claro: proatividade e resiliência.
“A melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”. — Peter Drucker
3) Comunicação — Think Global, Act Local: Ao sobrevoar a costa de Tel Aviv em um helicóptero pilotado pelo CEO de uma startup Israelense (que também é coronel da aeronáutica), observei que ele mantinha contato frequente, curto e preciso com a torre de comunicação do aeroporto de Hertzlyia. Alegre e descontraído, parecia estar livre e de férias — porém sempre alerta e conectado.
Há cerca de um ano, tive a oportunidade de conhecer e compartilhar experiências com Osnat Lautman, autora de “Israeli Business Culture” que resumiu a cultura ISRAELI™ como: Informal, Straightforward, Risk-Taking, Ambitious, Entrepreneurial, Loud, Improvisational.
Seus workshops focam na construção de um “Global Mindset” para endereçar barreiras culturais quando se trabalha com Israelenses: estilo direto de comunicação, a quase que imperceptível hierarquia e a improvisação (percebida muitas vezes por culturas como a germânica como “desorganização”). A cultura rejeita longos e-mails.
“I didn’t have time to write a short letter, so I wrote a long one instead.”
Vivemos momentos desafiadores e interessantes. Israel é um país do tamanho do Sergipe, rodeado por vizinhos não muito amigáveis como o Líbano e a Síria. Estamos diante de uma gama de desafios, além de um mix entre admiradores e críticos no mundo todo. Israel não é perfeito, mas virou a nação empreendedora. Do fundador de startup aos cientistas responsáveis por grandes inovações globais dentro de centros de pesquisa de multinacionais como a Google, Intel e Microsoft, temos em comum a loucura do “Maluco Beleza” e a ousadia (“Hutzpa”) de tentar e errar, cair e levantar-se, e jamais desistir ou deixar de acreditar. Am Israel Hai (B”H)!
“Em Israel, para ser realista você precisa acreditar em milagres.”
— Ex-Primeiro-Ministro de Israel, David Ben-Gurion
Beny Rubinstein é Engenheiro de Computação pela PUC-RJ e M.B.A. pela Wharton School da University of Pennsylvania. Reside em Tel Aviv e atua em diversos Conselhos Consultivos para startups de Inteligência Artificial, Corporações e Fundos de Investimento no Brasil, em Israel e outros países.
Foi co-fundador do grupo de incubação global do Microsoft Azure (Cloud & AI) e atua como Chairman do “Future of Health Summit” na Eslováquia.
Para acessar algumas palestras, visite WWW.BenyRubinstein.com
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