Como otimizar sua busca de trabalho (e gerenciar sua carreira)

Beny Rubinstein
7 min readAug 12, 2022

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Nos últimos, acompanhamos diversos acontecimentos como a invasão da Ucrânia pelas tropas russas em fevereiro, e mais recentemente a preocupação com uma iminente invasão de Taiwan pela China que teria implicações drásticas na oferta de semicondutores para o mundo. O mercado de ações concluiu um de seus piores semestres nos últimos 50 anos, com uma queda de 21%. O índice da Nasdaq, que inclui várias empresas de tecnologia, caiu 30% nos últimos seis meses. Neste contexto, as FAANG: Facebook (agora Meta), Apple, Amazon, Netflix e Google (Alphabet) desaceleraram seus processos de recrutamento e diversas startups anunciaram cortes (layoffs).

Antes de virar a página da revista para buscar notícias mais alegres, já compartilho os “good News”: como disse Albert Einstein, “In the midst of every crisis, lies great opportunity” (no meio de cada crise, está grande oportunidade). Em 18 de julho, falei um pouco sobre como gerenciar sua carreira em um vídeo para a Revista Bras.il. Atuando como mentor e “career coach” em diversas organizações em Israel e no exterior desde 2017, frequentemente me deparo com profissionais que se sentem estagnados em seus atuais empregadores, não conseguindo vislumbrar um caminho para se desenvolverem e crescerem profissionalmente. Em alguns casos, a busca por um novo trabalho é quase inevitável; em outros casos, possivelmente há outras opções para se “tomar as rédeas” e direcionar sua carreira. Como me dizia meu ex-chefe na Microsoft Oriente Médio e África: “Own your destiny”.

Seguem aqui cinco aprendizados que me foram extremamente úteis ao longo da minha carreira:

1) Antes de buscar sua próxima oportunidade, adquira clareza sobre o que você de fato quer

Sim — você pode estar tendo dificuldades em buscar uma nova colocação porque na realidade ainda não sabe o que de fato está buscando. Muitos tentam aplicar para dúzias de trabalhos na esperança de que isso aumente suas chances de recolocação. A realidade é que o primeiro passo para se atingir seu sonho (o “dream job”) é defini-lo. Não se iluda com títulos; na minha época em Redmond, matriz da Microsoft, uma recrutadora decidiu imprimir em seu cartão de visitas “Recruiting Diva”. Regra número um: liste em um papel o que é mais importante para você; por exemplo, aprender uma nova função (ex.: vendas), uma nova tecnologia (ex.: Inteligência Artificial), ou gerenciar pessoas. Tente desvincular o “prestígio” e identificar o que de fato lhe motiva: por exemplo, quer gerenciar um time pois quer se tornar um líder experiente, ou porque “nesta fase da minha vida eu já deveria ser gerente”? Seu trabalho ideal, antes de impressionar aos outros, deve lhe trazer grande estímulo pessoal.

“Look not at the pitcher, but upon what is inside — a new pitcher may be full of good old wine, while an old one may be totally empty.” (Talmud)

— Judah haNasi (príncipe), descendente de Hillel (também chamado de “Rebbi”)

2) Pesquise bastante; crie uma lista de empresas alvo e um plano de ação

Você sonha em trabalhar na Google? Microsoft? Em um dos unicórnios israelenses? Em uma empresa fora da área de tecnologia que você admira e te fascina? Familiarize-se com elas! Na sinagoga onde eu fiz meu bar mitzvah está escrito em hebraico “Da Lifnei mi atah Omed” (saiba diante de quem você está). Assim como em um templo nos tornamos mais conscientes da presença Divina, também no mundo profissional precisamos sabermos perante quem estamos. Uma regra básica (e pouco seguida): tenha uma lista de não mais que dez empresas (talvez bem menos do que isso, cinco ou seis), e um plano de como tornar-se muito bem familiarizado com sua cultura, seus valores, seus produtos e serviços, sua estratégia, seus clientes e seus competidores. Para empresas públicas (isto é, listadas na bolsa de valores), leia seus relatórios financeiros que são publicados para investidores. Crie um plano de networking profissional — eventos, cursos online, ex-funcionários ou atuais funcionários a quem você pode obter acesso — e cumpra-o por pelo menos três meses! Dois possíveis resultados sairão deste investimento: ou você entenderá bem melhor como entrar para a empresa sonhada, ou você entenderá que tal sonho não é para você, e de qualquer forma você sairá ganhando (em hebraico, frequentemente se usa a expressão “Nihie yoter hachamim” (seremos mais inteligentes uma vez concluída esta etapa). É preciso saber quais são as coisas que ainda não sabemos!

Donald Rumsfeld, Secretário da Defesa dos EUA em 2002

3) Mantenha sua energia positiva!

Você pode estar desanimado, cansado, desacreditado, frustrado…é natural. Um dos mais recentes eventos que nós, mentores do Product League (programa de mentoria para gerentes de produto que se iniciou em Israel e hoje é global), participamos recentemente intitulou-se “I am your mentor — not your shrink” (sou seu mentor, não seu psicanalista). Apesar disto, quanto atuo como mentor ou career coach, tento entender e levar em conta a situação pessoal do indivíduo com quem trabalho, pois a fim de poder apoiar seus objetivos profissionais é preciso também entender o seu momento pessoal.

Porém, lembre-se que seus recrutadores também estão frustrados por não conseguirem achar o “candidato ideal”, e todas as pessoas ao seu redor — amigos, familiares, mentores — também têm suas frustrações e dificuldades. Portanto, é essencial que você cuide de sua saúde (física e mental), de sua espiritualidade; trate todos bem, inclusive cuide bem de você nesse processo. Dê a você mesmo algumas recompensas, reconhecimento; lembre-se de que se você espera reconhecimento de seu chefe (atual ou futuro), é preciso que você aprenda a tratar de si mesmo com o mesmo respeito e generosidade. Lembre-se de que essa busca pode se estender por mais tempo do que você espera, então quando cansar, aprenda a descansar e não a desistir!

“If I am not for myself, who will be for me? But if I am only for myself, what am I? And if not now, when?” (Pirkei Avot Capítulo 1:14)

— Hillel (líder da Corte Suprema judaica em Israel no século I)

4) Organize-se e crie uma metodologia personalizada para se posicionar como um ativo indispensável

Colocando agora meu chapéu de recrutador (entrevistei centenas de pessoas ao longo de minha carreira na Microsoft, em startups, em venture capital e como membro do comitê de seleção da Universidade da Pensilvânia), é necessário avaliar o valor que um potencial funcionário(a) agregará à minha empresa e ao meu departamento (ou à minha universidade, no caso de candidatos ao MBA). A atitude do candidato durante todo o processo é tão importante quanto suas qualificações profissionais!

Uma das metodologias quem me foi introduzida por um de meus career coaches nos Estados Unidos se chama SAR (Situation, Action, Results): um framework através do qual você pode contar sua história para qualquer futuro empregador de forma clara, objetiva e customizada. Por exemplo, ao entrevistar para uma posição de gerente de produtos em uma empresa de saúde digital, ao invés de listar no seu currículo apenas as posições que ocupou e suas responsabilidades, ou utilizar frases vagas como “sou muito organizado”, é bastante mais eficaz escrever (e/ou mencionar em sua entrevista): Como gerente de produto na empresa <ABC>, utilizei meu conhecimento de <XYZ> para reestruturar o projeto <BLA-BLA> que estava em risco e com isso reduzi o tempo de entrega em 50% além de trazer um ganho financeiro de $500M para a empresa”. É claro que tudo isso requer um investimento de tempo e autoconhecimento, além do apoio de ex-gerentes, ex-colegas do trabalho, e eventualmente de profissionais com experiência para guiá-lo neste processo — porém é um investimento de longo prazo em sua carreira (eu pessoalmente o fiz há cerca de uma década com ajuda de um career coach).

5) Exubere gratidão!

Escreva Thank you notes para aqueles que lhe dedicam tempo: aos recrutadores, entrevistadores, mentores e outros que de alguma forma participam dessa jornada com você. Cinco a dez minutos de investimento para dizer obrigado(a) pode ter um impacto grande em sua carreira e na sua vida! Aliás, obrigado desde já pelo tempo dedicado a esta leitura e pelo seu feedback! Boa sorte a todos.

Último tweet de Jô Soares (16/1/1938–5/8/2022)

Beny Rubinstein é Engenheiro de Computação pela PUC-RJ e M.B.A. pela Wharton School da University of Pennsylvania. Atualmente, atua como advisor para CEOs de startups israelenses como a Evolution, que utiliza a Inteligência Artificial (IA) para a automação da criação de sistemas de IA através de algoritmos genéticos, e é membro do Conselho Consultivo do Pólo de Inpvação do Interior de São Paulo. Durante 15 anos, atuou em diversos cargos executivos na Microsoft baseado nos Estados Unidos e posteriormente no Oriente Médio e África, incluindo o Microsoft Research. Atua também como career coach e mentor no Product League, Women in Alliances, MassChallenge Israel e México, Gvahim Entrepreneurship Center e outros.

Para acessar algumas palestras, visite WWW.BenyRubinstein.com

Publicado em: Revista nº 29 — Agosto/2022 — Revista Bras.il (bras-il.com)

Vídeos sobre o assunto estão no canal de YouTube da Revista Bras.il:

(14) BENY RUBINSTEIN — ENTREVISTA DE EMPREGO — YouTube

(14) BENY RUBINSTEIN — PERGUNTAS OU RESPOSTAS? — YouTube

(14) BENY RUBINSTEIN — PRIMEIRO EMPREGO EM HI-TECH — YouTube

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Beny Rubinstein

Founding Team Member of Microsoft Azure currently working on disrupting AI/ML through AI for Genetic Algorithms that builds AI. Startup investor and adviser.